Ao invés do VERBO a máscara

E lá no mundo primitivo, povoado por fantasmas, espíritos, demônios, entidades de todos os calibres, os rituais e os tabus que valiam para quem usava a máscara, valiam igualmente para aquele que a fabricava, apesar de às vezes, por ser ele um membro da aristocracia silvícola, ser dispensado da caça, das tarefas mais incômodas e até mesmo da guerra. A função do artesão das máscaras era sem dúvidas uma das mais importantes, já que estava mais próxima e mais relacionada com o sobrenatural que as outras. E era exatamente essa a razão que o obrigava a trabalhar isolado, fabricar as peças longe da curiosidade tribal e sem que os outros tivessem conhecimento. Na África, era durante um ritual religioso, uma festa ou uma solenidade que se derrubava a árvore da qual se construiria a máscara. Algo semelhante era feito entre os iroqueses que dançavam e ofereciam fumo aos espíritos durante a construção da falsa cara. Em algumas comunidades da polinésia, depois de prontas, as máscaras eram levadas para os cemitérios para serem carregadas com o magnetismo, as energias e os poderes dos parentes e irmãos que já haviam morrido.

Todos os documentos que tive paciência de consultar concordam em três pontos:

1. A primeira imagem ou a primeira representação de um ser usando uma máscara foi descoberta numa pintura do paleolítico gravada nas paredes da gruta dos Três Irmãos, na província do Midi (França). Imagem que todo mundo já deve ter visto e que representa um dançarino mascarado (meio gente e meio animal) que, segundo os especialistas, poderia ser uma espécie de xamã executando uma dança ritualística relacionada com a caça do veado. Sabe-se que naquela época, uns trinta mil anos atrás, os homens/caçadores costumavam travestir-se de animais para chegarem dissimulados até as vítimas.

2. Que a construção de máscaras foi um fenômeno universal, podendo ser verificado em todas as regiões da terra, principalmente em se tratando das máscaras funerárias, usadas por muito tempo na Mesopotâmia, no Egito, na Grécia, Síria etc.

3. Que, - como escreve Franco Monti -, os homens daquela época viram na construção e no uso das máscaras, uma maneira de sentir-se participantes das forças diretoras do universo, uma maneira de atuar com essas forças e de utilizá-las na sublimação de suas faculdades instintivas.

Em seu primitivismo e animismo, o homem daquele momento pré-histórico, acreditava que com a máscara amarrada ao rosto poderia apoderar-se de energias extra-humanas que permeariam o universo e através dela, adquirir poder para mudar àquilo que o incomodava na realidade.

A máscara mais antiga que se tem notícia e que se conhece, construída de rocha calcária, teria mais de nove mil anos e pertenceu à coleção arqueológica de Moshe Dayan, atualmente está no Museu de Jerusalém, em Israel.

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